Setor mineral precisa falar linguagem que a sociedade entende
Oportunidades e projetos de mineração em desenvolvimento no país tema de painel com especialistas, durante Invest Mining Summit, realizado na B3. Eles destacaram a importância de se gerar emprego e renda com juniors companies, aproveitando a transição energética para atrair investimento para o setor no país.
No painel “Oportunidades e projetos em desenvolvimento no Setor Mineral Brasil”, que teve mediação da diretora do Ministério de Minas e Energia, Ana Paula Bittencourt, participaram o presidente da Associação Brasileira de Empresas para a Pesquisa Mineral, Luis Maurício Azevedo; o diretor da Genial Investimentos, Ricardo Fonseca; o diretor de Sustentabilidade do IBRAM, Júlio Nery; e o presidente do Conselho da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), Marcos Gonçalves.
Azevedo iniciou a sua fala perguntando se o Brasil tem uma potencialidade enorme, porque se encontra tão atrás no setor mineral? “Talvez porque não falamos uma linguagem que a sociedade entende e aprecia. Minha fala é também sobre essa participação do setor mineral”, disse. De acordo com ele, um dos grandes desafios é levar a mineração para outras localidades, fora das regiões Norte e Sudeste. Acredito que isso pode ajudar também a modificar o olhar da sociedade para o setor”, observou.
Sobre os minerais críticos, ele chamou a atenção para um ponto: “As empresas têm concentrado esforços em lítio e terras raras. A principio isso atraiu capital, abriu mercado, mas também é preocupante. Porque quase 50% de todo o investimento de mineração do mundo está no ouro, e isso não está no nosso radar. Lítio e terras raras são apenas 7% de investimento do mundo. Estamos certos ou é o mundo que está certo?”, indagou.
Muito além das majors
Ampliar o olhar para muito além das majors do setor – ou seja, para as pequenas e médias empresas do setor, as juniors companies – é um compromisso básico para fazer com que os recursos sejam gerados aqui no Brasil, alertou Ricardo Fonseca, da Genial Investimentos. Ele fez uma conta para demonstrar a importância disso.
“Hoje temos no país 9.600 CNPJs abertos para o setor mineral. Em atividade, são pouco mais de 6 mil. Ativas em exploração e produção, são 1.130. Se a gente retirar os grandes players, sobram 1.100 empresas que não estão no radar de ninguém. São mais de mil empresas ativas, prontas para se desenvolver. Empresas que valem na casa do bilhão, uma pujança do setor que hoje não está na Faria Lima. Trazer essas oportunidades para dentro do nosso setor é muito importante. Vai gerar renda, emprego, investimentos”, destacou.
Janelas de oportunidades
Aproveitar as janelas de oportunidades. Esse foi o tema da fala do diretor de Sustentabilidade do IBRAM, Júlio Nery. “Muitos falam em desenvolver o setor, mas de que forma podemos aproveitar nosso potencial e explorar as oportunidades? São muitas frentes, e a descentralização é uma delas. Minas Gerais é o estado líder em produção e em investimentos, mas o Pará tem um potencial maior. A Bahia tem um ambiente mais favorável, e vai crescer bastante”, disse.
O fortalecimento de uma indústria para avançar nas etapas de exploração é outro ponto fundamental. “Por exemplo, no caso do lítio, é preciso que haja uma indústria de baterias para carros elétricos, e isso não vem do setor mineral. As taxações vindas do Congresso vêm diminuindo o poder de investimento das empresas, quando precisamos justamente do contrário”. E, além disso, infraestrutura para escoar essa produção”, explicou.
Para o presidente do Conselho da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), Marcos Gonçalves, a transição energética é a oportunidade para que seja possível preencher esse vácuo de investimentos, trazendo a Bolsa de Valores para a mineração.
“Estamos aqui decantando um pouco do que já feito. Hoje temos o fundo do BNDES, padrões internacionais, protocolo digital. A transição energética revitalizou o setor, mas o investidor ainda diz, ‘tem o custo de capital, licenciamento ambiental, retorno para a sociedade’.
Segundo ele, no final a aposta grande segue recaindo em metais como o cobre, o níquel e o alumínio. “Por que? Simples: somos um país de renda média, e não vamos migrar para o carro elétrico em curto prazo. Os problemas estão na mesa, e há um caminho grande para conseguirmos dar o próximo passo”, disse ele.
Pegar na mão da sociedade
A mediadora Ana Paula Bittencourt observou que, em determinado momento, o agro seguiu de mãos dadas com o Brasil, mas a mineração soltou essa mão. “Precisamos buscar a linguagem correta, para que as entregas sejam percebidas. Precisamos voltar a pegar na mão da sociedade, para que possamos ser vistos pela nossa capacidade de entrega efetiva”.
Outro ponto levantado por ela é a complexidade dos processos decisórios. “A questão da tributação do setor, por exemplo, tem muito a ver com outro esforço nosso para ressignificar nossa atividade nos nichos decisórios. E esses nichos são só um termômetro de impressões que existem de maneira difusa na sociedade. Como se diz no setor, falamos muito bem pra nós mesmos. Precisamos tornar a mineração mais tangível p a sociedade”, complementou.