Aumenta interesse por terras raras no Brasil

O avanço da indústria de alta tecnologia fez crescer a demanda por minerais com características únicas, como alta capacidade de condução de calor e eletricidade, magnetismo ou absorção e emissão de luz. Conhecidas como terras raras, por serem de difícil extração, essas substâncias são matérias-primas para produtos diversos, que vão de lâmpadas LED a equipamentos para carros elétricos, passando por aplicações na indústria química.
Companhias estrangeiras vêm ampliando seus investimentos no Brasil, onde há 22 milhões de toneladas de reservas estimadas dessas substâncias. Ao lado do Vietnã, é a segunda maior reserva do mundo. A China tem o dobro. No ano passado, a canadense Canada Rare Earth Corporation anunciou planos para investir R$ 1,5 bilhão em uma planta para processar e refinar terras raras a partir do rejeito do garimpo Bom Futuro, em Ariquemes (RO). Outra canadense, a Appia Rare Earths, fechou acordo com a 3S Ltda e a Beko Invest para adquirir até 70% de participação no projeto de terras raras de Cachoeirinha (GO). A transação está em vias de ser confirmada.
“O Brasil já está no radar dos fundos de investimento globais interessados em explorar o potencial do país em minerais associados à transição energética”, diz Miguel Nery, diretor de exploração mineral da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM). Esse interesse aparece no número de requerimentos de pesquisa para lavra de terras raras protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM); passaram de 90, em 2020, para 154 em 2022.
Os fundos Energy and Minerals Group e Vision Blue Resources, por exemplo, investiram US$ 150 milhões (R$ 760,5 milhões) no projeto operado pela Mineração Serra Verde, controlada pelo Denham Capital, em Minaçu (GO). São sete processos na fase de concessão de lavra; a previsão é para início até o fim deste ano.
A corrida por terras raras também movimenta a pesquisa. A mineradora Taboca inaugurou dois laboratórios voltados a essas substâncias no ano passado -um no Amazonas, onde extrai na mina do Pitinga minerais para produção de ligas metálicas de altíssima qualidade e valor agregado, e outro em São Paulo.
O primeiro, uma parceria com o governo do Estado via Fundo de Amparo à Pesquisa do Amazonas, vai aplicar processamento hidrometalúrgico em minérios de bauxita e de concentrados de cassiterita e columbita. “O laboratório está voltado à obtenção de terras raras e recuperação de metais a partir de lixo eletrônico”, diz o coordenador e professor Clairon Lima Pinheiro.
O segundo é uma parceria com o Laboratório de Reciclagem, Tratamento de Resíduos e Extração (Larex) da Poli-USP. “O Brasil passará a ser um produtor e exportador de terras raras, que são insumos de alto valor, imprescindíveis para equipamentos de alta tecnologia”, diz o professor Jorge Tenório, coordenador do projeto.
As propriedades magnéticas e de absorção e emissão de luz tornam as terras raras um minério precioso, com possibilidade de uso em tecnologias que apontam para o futuro. Também é considerado um elemento relevante no processo de transição energética, bem como na criação de tecnologias essenciais na descarbonização. A produção local, porém, ainda é baixa: foram apenas 500 toneladas em 2022, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), apesar das reservas.
Os maiores depósitos de terras raras identificados no Brasil estão localizados na região amazônica e em Minas Gerais.
Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2023/04/28/aumenta-interesse-por-terras-raras-no-brasil.ghtml