É preciso criar ambiente de proteção ao risco para atrair capital e impulsionar a indústria de mineração no país
Sigma Lithium, Aura Minerals, Bravo Mining e Brazilian Rare Earths são exemplos de empresas que entregam resultados consistentes aos investidores.
São Paulo – Durante o Invest Mining Summit 2024, realizado na sede da B3, executivos de grandes empresas do setor mineral compartilharam suas trajetórias e desafios enfrentados para consolidarem suas empresas no mercado de capital aberto. O painel Empresas Capital Aberto: Casos de Sucesso, moderado por José Ricardo Pisani, da Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CBRR), teve a participação de Rodrigo Barbosa (Aura Minerals), Ana Cabral (Sigma Lithium), Renato Gonzaga (Brazilian Rare Earths) e Alex Penha (Bravo Mining Corp.), que relataram os desafios e os caminhos percorridos pelas empresas que lideram em busca de capital para desenvolverem seus projetos.
Durante o debate, os executivos ressaltaram que a dificuldade encontrada pelo setor mineral brasileiro em captar recursos para projetos em fase inicial existe pela falta de uma cultura de investimento focada em projetos de mineração pré-operacional e a aversão ao risco por parte de muitos investidores. José Ricardo Pisani ponderou que trazer o mercado financeiro para o setor mineral é um grande desafio, principalmente pelo preconceito que há contra a mineração no Brasil e pelo impacto negativo deixado por alguns empreendimentos.
Rodrigo Barbosa, CEO da Aura Minerals, avaliou que país possui todos os elementos necessários para se desenvolver como um grande player mineral: potencial geológico, projetos de qualidade, acesso a capital e uma equipe técnica altamente capacitada. “A governança e a qualidade dos profissionais do setor de mineração no Brasil são impressionantes”, afirmou Barbosa.
Investidores com apetite
No entanto, Barbosa reconheceu que é preciso aumentar o interesse dos investidores locais por projetos ainda em fase de desenvolvimento, uma vez que o perfil predominante é de aversão ao risco. Ele fez uma provação à Faria Lima citando o case da Aura – listada na bolsa de Toronto e na B3, com BDRs – mostrando que é possível e tem investidores com apetite.
“Olhem os casos que foram apresentados aqui. A Aura saiu de US$ 20 para quase US$1 bi, a Bravo US$ 500 milhões, terras raras US$ 500 milhões. A Sigma é multbilly. Tudo isso na maioria das vezes com investidores fora do Brasil, investindo no Brasil. Não é a hora do brasileiro investir para ter esse benefício? Indagou Barbosa.
Ele reconheceu, no entanto, que disputar com o CDI não é uma tarefa simples, mas que o setor mineral oferece oportunidades. “Se aprofundem, analisem, ganhem experiência. É isso que precisa, ganhar musculatura para criar confiança, porque vai ter oportunidades.”
Transparência é a chave para atrair confiança dos investidores
Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, concordou com a avaliação de Barbosa, e acrescentou o fato de o país ser um ator global neutro que dialoga com vários países. Segunda ela, é uma vantagem competitiva. “Essa neutralidade dá ao Brasil certo protagonismo em pautas complexas. Todos os investidores são bem-vindos e isso não necessariamente acontece em outras bolsas. Então está aí para Bovespa uma vantagem competitiva”.
Ana Cabral citou ainda que existe grupos de capitais órfãos buscando oportunidades. Ela conta que esses grupos estão migrando para a África. E questiona: por que não aqui? Por que não no Vale do Jequitinhonha? Por que não elevar nossas pessoas? Essa é uma discussão como brasileira que eu falo lá fora e ninguém gosta”.
Para Ana Cabral os reguladores do país precisam incentivar um ecossistema de proteção ao risco para atrair capital utilizando as melhores práticas dos mercados canadense e australiano. “Quando esses reguladores se juntarem para esse projeto usando melhores práticas, que a gente vê nesses mercados do qual a gente tanto fala, você cria um ambiente de proteção ao risco”.
Ela mencionou que levou 12 anos de trabalho contínuo para construir a empresa, hoje uma referência global na produção de lítio verde. Destacando ainda que, um dos principais pilares para o sucesso da companhia foi a dedicação obsessiva e a aplicação de tecnologia de ponta, buscando sempre competir com players globais. “A cultura de trabalho 24/7, típica do Vale do Silício e da Ásia, foi crucial para chegarmos até aqui”, afirmou.
Ana Cabral também citou a necessidade de ser transparente e realista nas projeções para conquistar a confiança dos investidores. Ela disse que a transparência foi um fator determinante para atração de investidores de referência como a BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo.
A Sigma Lithium está listada na Nasdaq (Nova York, EUA) e também na bolsa de Toronto, no Canadá. No Brasil, na B3, a empresa é negociada através do BDRs. E, em dois anos de operação se consolidou como um dos maiores complexos minero-industrial de lítio do mundo e está caminhando para dobrar sua produção com a construção de uma segunda planta de beneficiamento, financiada pelo BNDES, prevista para entrar em operação em 2025.
Investidores dispostos a assumir riscos
Renato Gonzaga, CFO da Brazilian Rare Earths (BRE), enfatizou o rápido crescimento da companhia desde o IPO realizado em dezembro de 2023, na bolsa de Sydney, na Australia, destacando que a qualidade do projeto e a capacidade de atrair investidores de referência foram determinantes para o sucesso. “Abrir capital é um processo custoso e demorado, mas essencial para consolidar a empresa no mercado”, disse Gonzaga, mencionando a importância de manter um trabalho contínuo mesmo após o IPO, para sustentar a confiança do mercado.
Já Alex Penha, da Bravo Mining Corp, listada na bolsa de Toronto no Canadá, trouxe a perspectiva do mercado canadense, onde há um maior apetite por investimentos em empresas de mineração em fase inicial. Penha afirmou que, para atrair esse tipo de investidor, é essencial ter projetos sólidos e profissionais com experiência comprovada no setor. Ele citou a Bravo como um exemplo de empresa que conseguiu se consolidar no mercado por meio da conexão entre projetos de qualidade e investidores dispostos a assumir riscos.
O invest Mining Summit demonstrou que, apesar dos desafios enfrentados no Brasil, há um movimento de maturação e profissionalização do setor de mineração brasileiro mineral, com iniciativas que buscam aumentar a competitividade e atrair mais capital para o setor. Os palestrantes concordam que é necessário continuar investindo em governança, transparência e qualificação profissional para transformar o Brasil em um dos grandes players mundiais de mineração, é que busca por minerais essências para viabilizar a transição energética no mundo é um oportunidades para destravar investimentos no setor.